segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Rito de Passagem

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Conquistas vazias em um universo per’feito,
Extraídas de lamentações, jóias de vidro...
Vitórias em reinos povoados pela imaginação,
Sucesso insignificante num mundo de papel.

Hoje, o poço é seco de sonhos
E a terra côncava urge algo a preenchê-la.
O rito de passagem, alimenta-a, etapa a etapa.
Com algo mais grosso que água...
Vermelho, como lágrimas do último a bebê-lo.

As macias e delicadas ferramentas
Que verteram do buraco o liquor onírico
Tornaram-se afiadas e ferrosas.
Talhando das mãos trêmulas,
Nenhuma gota onerosa na vastidão estéril,
Só luz rubra de carne.

Logo virão os a contemplar o sabor encarnado.
A vestir-se do couro dos derrotados
Exigindo milagres do tempo passado.

O poço é o receptáculo
O toldo do espetáculo
O foco do oráculo

Ainda embebido no odor ocre escarlate
Submirjo do ventre freático
Recito o rito iniciático
Daquele que do sangue crê arte.

Conjuro demônio, sombra, egum!
Satã, Cthulhu, Exu!
E em giros assimétricos o jogo
Muda de regra a gosto
E com que aprendi do mundo
Do papel ilusório imundo
Mostro pouca diferença
Que aqui e lá cabe a sentença:

“Seja feita vossa vontade”

§

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